domingo, 21 de julho de 2019

Artigo ‘Story Maps’ e Geologia

‘Story Maps’ e Geologia

Uma ferramenta digital em Ciência

REVISTA DE CIÊNCIA ELEMENTAR, V7n02
Helder I. Chaminé, Liliana Freitas, Maria José Afonso LABCARGA/ DEG/ Instituto Superior de Engenharia do Porto, P.Porto

A ferramenta digital ‘Story Maps’ desenvolvida pelo Environmental Systems Research Institute (ESRI) é uma aplicação da internet, gratuita, baseada em mapas e outros conteúdos multimédia. Esta pode ser utilizada em Ciências, Engenharia, Ambiente, Economia, Humanidades, Artes, entre outras. É, de facto, uma efetiva ferramenta digital multidisciplinar e transdisciplinar para apoiar uma rigorosa narrativa científica apoiada em cartografia, Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e técnicas de geovisualização. Nesta breve nota apresentam-se os principais traços desta poderosa ferramenta virtual e das suas reais potencialidades no ensino das Geociências nos vários ciclos de estudos (básico, secundário e superior). Além disso, esta ferramenta tem uma componente de interatividade, conectividade, flexibilidade e complexidade que poderá ser ajustada em função da narrativa científica que o utilizador pretende alcançar. A ferramenta ‘Story Maps’ pode ser utilizada em sala de aula e/ou no campo, apoiada por dispositivos multimédia tipo smartphone, iPad ou notebook. Será esta ferramenta digital capaz de revolucionar a forma de transmitir e comunicar Ciência? ‘Story Maps’: uma narrativa cartográfica Desde sempre o Homem teve necessidade de comunicar com o seu semelhante. Esta comunicação tomou diversas formas do ponto de vista antropológico, desde a expressão mística, religiosa e artística até à utilitária do quotidiano. Para o efeito, criou e desenvolveu várias estratégias, como por exemplo, o recurso a sons, que mais tarde veio dar origem às diversas linguagens faladas e à linguagem gráfica. Estão reconhecidas representações de animais, em pontos afastados e recônditos de algumas cavernas, lapas ou até mesmo em nichos, que seriam áreas de caça pelo Homem pré-histórico. Talvez muitas dessas representações em rocha (petróglifos) sejam o início de uma “Cartografia” ou representação das áreas geográficas ou elementos notáveis do terreno onde existiam animais para caça, pontos de água potável, cursos de água, vegetação, ou mesmo o tipo de paisagem geológica. A antropologia assinala que muitos dos povos atuais (e.g., aborígenes da Papua-Nova Guiné, habitantes das Ilhas Marshall, esquimós) demonstram uma capacidade e habilidade para traçar e desenhar “mapas”. Esses povos, quando questionados sobre a localização de áreas por eles conhecidas, têm a habilidade de desenhar no solo com um ramo ou uma pedra, um esquema do caminho. Podem enriquecer esse traçado com folhas, pedaços de paus e/ou pedras, conchas, ossos, dando-lhe assim uma maior quantidade de informação sobre pontos de referência singulares. Qualquer que seja o resultado final, resulta um verdadeiro “mapa” com escala e com um ponto de observação do terreno visto de cima. Logo, a aptidão para elaborar “mapas” é, de certa forma, inata à espécie Humana. Há registos de várias civilizações, desde a Antiguidade Clássica com a forte influência dos Gregos, Fenícios e Romanos até aos povos da bacia mediterrânica (incluindo Babilónia, Egito), Ásia (China) e América (Aztecas e Índios Norte-Americanos), nas quais se vislumbra o desenvolvimento da cartografia e utilização de mapas para múltiplos fins. No presente, com a implementação de novas tecnologias computacionais e diversas plataformas digitais, os SIG e as técnicas de geovisualização conquistaram, em particular, um importante papel na sociedade. Nos últimos anos emergiu uma interessante abordagem na comunicação científica com recurso à fusão de imagens (fotografias, vídeos, etc.) e escrita. Ambas encerram processos similares que beneficiam igualmente do rigor, da clareza e da assertividade. À semelhança da escrita, esta abordagem é mais convincente com uma narrativa forte. Este princípio também se aplica ao acompanhamento de figuras com legendas concisas. As estórias têm, em regra, a capacidade de encantar, de surpreender, de estimular a criatividade e a comunicação. De facto, estas estabelecem significativas conexões entre dados, análise e ideias. Logo, há um entrelaçar do processo narrativo baseado em imagens (especialmente, mapas) e uma escrita rigorosa e assertiva. ‘Story Maps’ é uma ferramenta digital de geovisualização, com interface amigável, na qual o utilizador (docente, aluno, ou público em geral) beneficia do acesso a dados do mundo real e a modelos interativos. É, por isso, uma ferramenta chave de aprendizagem baseada em conteúdos digitais. Por outro lado, a forma sintética de apresentação é particularmente atraente e eficaz para comunicar e visualizar ideias e/ou grandes quantidades de informação organizada, sendo direcionada para o público em geral ou, em contexto de sala de aula, para alunos de diferentes ciclos de estudos. A ESRI, através da sua plataforma interativa ArcGIS Online e da App ESRI Story Maps possibilitou a todos os utilizadores de SIG a criação, o desenvolvimento e a publicação, numa interface muito amigável, da aplicação “Story Maps”. Esta não é mais do que uma narrativa cartográfica, apoiada por técnicas de geovisualização, vocacionada para múltiplos propósitos, sejam ambientais, geológicos, biológicos, químicos, hidrológicos, históricos, artísticos ou outros. De destacar três extraordinárias aulas com recurso a esta ferramenta digital, “Motion of Tectonic Plates”, “Welcome to Anthropocene” e “Water and Climate Resilience”. Pode-se ainda aceder a outras cativantes publicações e ao tutorial no “Story Map Journal” da ESRI. Exemplo de aplicação: “Um percurso pela hidrogeologia urbana de Viana do Castelo: cidades inteligentes, sustentabilidade e água subterrânea” O impacto do desenvolvimento urbano nas águas subterrâneas é internacionalmente reconhecido desde os inícios do séc. XX. Contudo, foi apenas em meados desse século que a hidrogeologia urbana se tornou um domínio científico. Em Portugal, os primeiros estudos científicos de hidrogeologia urbana foram publicados no virar do séc. XX na área metropolitana do Porto. Em áreas urbanas, paralelamente aos estudos geológicos e geomorfológicos e à cartografia hidrogeológica, os inventários hidro-históricos, hidrotoponímicos, hidrogeológicos e hidrogeoambientais constituem uma ferramenta básica que fornece excelentes resultados na caracterização e avaliação dos recursos hídricos subterrâneos.
FIGURA 1. Exemplo da construção do ‘Story Maps’: Um percurso pela hidrogeologia urbana de Viana do Castelo, durante os Workshops integrados no I Encontro Temático da Casa das Ciências (Água) realizado em Viana do Castelo, em abril de 2019.

Neste âmbito, foi desenvolvida uma atividade mista (campo e sala de aula) de construção e desenvolvimento de uma narrativa cartográfica em hidrogeologia urbana usando a ferramenta digital “Story Maps”. No centro histórico de Viana do Castelo existe um conjunto de fontanários, chafarizes e lavadouros, alguns dos quais abastecidos por águas subterrâneas. Assim, foi realizado um percurso pedestre, onde se recolheram informações geológico-geomorfológicas, hidrogeológicas, hidrogeoquímicas, hidrotoponímicas e geoambientais, assim como se localizaram e georreferenciaram os pontos de água da cidade de Viana do Castelo. A ferramenta digital permitiu combinar mapas com uma narrativa científica, imagens e conteúdos multimédia com informação científica vária. Esta facilita, assim, o aproveitamento da capacidade dos mapas para contar a história de uma dada área urbana, na lógica do paradigma das cidades inteligentes e das geociências em meios urbanos (FIGURA 1).

Artigo "Reativação tectónica"

Reativação tectónica

Da margem Portuguesa no tempo da Tectónica de Placas

REVISTA DE CIÊNCIA ELEMENTAR, V7n02
 João C. Duarte IDL/ Universidade de Lisboa

A tectónica de placas é a teoria unificadora das ciências da Terra sólida. Assim como a mecânica do Newton e a evolução do Darwin formam as bases da física e da biologia, a tectónica de placas é uma estrutura conceptual sobre a qual se desenvolvem as diversas disciplinas da geologia. Segundo a teoria da tectónica de placas, a camada externa da Terra sólida encontra-se fragmentada em diversas placas (tectónicas) rígidas que se deslocam umas em relação às outras. Estas placas contêm a crusta e uma parte do manto superior. Ao conjunto destas duas camadas chama-se litosfera. As placas litosféricas movem-se sobre uma camada mais dúctil chamada astenosfera. As placas podem divergir, convergir ou mover-se lateralmente, sendo que nos limites divergentes é criado novo material de placa e nos limites convergentes as placas são destruídas (em zonas de subducção). É nas zonas de limites de placas que ocorrem uma grande parte dos processos geológicos, entre os quais a maioria da atividade sísmica, de processos vulcânicos e de processos de formação de depósitos minerais.

A teoria da tectónica de placas foi desenvolvida entre os anos 60 e 70 do século XX por cientistas como Tuzo Wilson, Jason Morgan, Dan Mckenzie e Xavier Le Pichon. Desde o seu início que se percebeu que algumas margens dos continentes correspondiam a zonas de fronteira de placas, como no caso do Pacífico (onde há grandes sismos com elevada regularidade). Estas denominam-se de margens ativas. No entanto, no caso do Oceano Atlântico as margens dos continentes não correspondem em geral a zonas de fronteiras de placas e são por isso denominadas de margens passivas, não revelando atividade sísmica significativa. O artigo no qual estes dois tipos de margens foram definidos foi publicado em 1969 pelo geólogo Inglês John Dewey, da Universidade de Cambridge no Reino Unido. No entanto, precisamente nesse ano, um sismo de elevada magnitude (7.9) ocorreu ao largo da margem Atlântica do Sudoeste da Ibéria. O sismo de 1969 não foi o único sismo de grande magnitude a ocorrer nesta região. Terá também sido aqui, a Sudoeste do Cabo de São Vicente, que foi gerado o Grande Sismo de Lisboa de 1755. Logo nesse ano, os “pais” da tectónica de placas perceberam que algo de único poderia estar a ocorrer nesta zona. Os geocientistas Yoshio Fukao e Michael Purdy, na altura jovens investigadores em Cambridge, dedicaram-se a estudar esta área em detalhe e concluíram que neste local poderia estar a ocorrer um processo de início de subducção. O processo estaria relacionado com a existência da zona de fronteira de placas transformante Açores-Gibraltar, ao longo da qual a placa Africana poderia estar a começar a mergulhar sob a placa Euroasiática, visto que neste local as placas estão a convergir. Anos mais tarde, o Professor António Ribeiro da Universidade de Lisboa propôs que esta zona de convergência incipiente estaria a propagar-se ao longo da margem Oeste Portuguesa, local onde a margem passiva se estaria a transformar numa margem ativa.
FIGURA 1. Mapa tectónico da margem sudoeste Ibérica (adaptado de Duarte et al., 2013)

O processo de reativação de margens passivas tem um papel fundamental na teoria da tectónica de placas, em particular no conceito de ciclo de Wilson, segundo o qual os oceanos nascem, crescem e morrem. Os oceanos nascem a partir da fraturação de supercontinentes, crescem como resultado do alastramento oceânico, mas a determinado momento a litosfera oceânica torna-se demasiado pesada e tem a propensão para afundar no manto, gerando novas zonas de subducção que irão acabar por consumir o oceano. No entanto, o processo de início de subducção é ainda mal compreendido. Isto porque para que tal aconteça as placas oceânicas têm de se fraturar e estas à medida que arrefecem tornam-se também mais densas e muito rígidas, e, portanto, difíceis de fraturar. Identificar uma possível zona de subducção incipiente na qual o processo estaria a ocorrer neste preciso momento (geológico) ajudar-nos-ia a compreender este passo fundamental da teoria da tectónica de placas. Nos últimos anos, foi feito um grande esforço por parte da comunidade científica nacional e internacional no sentido de recolher dados geofísicos e de geologia marinha desta zona. Hoje temos uma imagem muito detalhada da morfologia do fundo marinho bem como da estrutura da crosta e das falhas aí existentes. Novos dados de tomografia revelaram também que haverá nesta zona uma grande estrutura profunda que poderá corresponder a um pedaço de placa que já se encontra a afundar no manto. Os novos dados são promissores e novas ideias estão a surgir. Os próximos anos serão de intenso trabalho na procura de uma melhor compreensão da zona. Tal irá certamente ajudar-nos a compreender alguns destes processos fundamentais da teoria da tectónica de placas, bem como dos processos sismológicos associados.


Agradecimentos O autor agradece um contrato de Investigador FCT e o projeto exploratório associado com referência IF/00702/2015, bem como o projeto FCT UID/GEO/50019/2013 - Instituto Dom Luiz.

Artigo "A Interferometria de Base Muito Longa (VLBI)"

A Interferometria de Base Muito Longa (VLBI)

REVISTA DE CIÊNCIA ELEMENTAR, V7n02
Virgílio B. Mendes IDL/ Universidade de Lisboa

Em 1929, na sua obra “A Origem dos Continentes e Oceanos” Alfred Wegener deixava um desafio à Geodesia, que permitiria provar a sua teoria da deriva continental: “Isto deve ser deixado para os geodesistas. Não tenho dúvidas de que num futuro não muito distante teremos sucesso em fazer uma medição precisa da deriva da América do Norte em relação à Europa.” Foram necessárias várias décadas, mas essa deriva veio mesmo a ser verificada com base em medições efetuadas pela técnica da Geodesia Espacial denominada Interferometria de Base Muito Longa (VLBI – Very Long Baseline Interferometry). Originalmente desenvolvida para obter informação de quasares, rapidamente se perceberam as suas potencialidades para as Ciências da Terra. As primeiras experiências com VLBI foram levadas a cabo no Canadá e nos EUA, em 1967, e as primeiras medições intercontinentais iniciaram-se um ano depois, entre o Observatório de Haystack, do Massachussets Institute of Technology (MIT), nos EUA, e o Observatório de Onsala, na Suécia. Em 1986, são publicados os primeiros resultados que confirmavam a teoria de Wegener. Ao longo de mais de meio século de desenvolvimento, medições por VLBI têm proporcionado um conhecimento notável dos mais diversos fenómenos associados à Terra sólida. A interferometria surge como um processo que permite contornar a limitação da resolução angular de um telescópio, que depende de dois fatores: o diâmetro do telescópio e o comprimento de onda do sinal que pretendemos observar. A observação de comprimentos de onda na banda rádio usados em radioastronomia necessitaria de telescópios com diâmetros de ordem quilométrica, o que constitui um impedimento físico. Com a interferometria, a resolução angular é indiretamente conseguida fazendo observações da mesma fonte de radiação em duas antenas separadas por uma grande distância. Desta forma, a principal limitação à resolução angular é a distância entre as antenas e não o diâmetro de cada antena. A VLBI é uma técnica geométrica, que consiste na medição da diferença de tempo que decorre entre a chegada de um sinal de rádio emitido por um quasar a duas antenas terrestres (FIGURA 1). Em cada sessão de observação, previamente programada, cada uma destas antenas regista de forma independente esse sinal. Um relógio atómico de grande exatidão (maser de hidrogénio) fornece uma frequência de referência precisa para os registos de cada radiotelescópio que são gravados em suporte magnético adequado. Dado que não existe uma ligação física entre os dois radiotelescópios, os registos das observações são posteriormente sujeitos a um processo de correlação. Este processo permite obter o atraso de tempo, a partir do qual se estimam vários parâmetros de interesse. As capacidades atuais da VLBI permitem determinar a posição relativa entre as antenas com incerteza de ordem milimétrica.
FIGURA 1. Esquema simplificado do princípio de funcionamento da interferometria de base muito longa.

A evolução da VLBI está intrinsecamente ligada à capacidade de registo do sinal de rádio. Nos primórdios da VLBI, uma simples sessão de observação (com duração de apenas alguns minutos!) obrigava à utilização de centenas ou milhares de suportes magnéticos, com taxas de aquisição limitadas a 720 kbps. Durante algumas décadas, o registo das observações era feito em fitas magnéticas. Os sistemas mais recentes permitem a gravação em discos rígidos, com taxas de aquisição e capacidades de armazenamento extremamente elevadas, permitindo o registo de longas sessões de observação. A VLBI é uma técnica espacial com características únicas, uma vez que permite definir um referencial inercial e determinar a orientação da Terra nesse referencial, essencial para o estudo da precessão, nutação, movimento do pólo e variação da duração do dia. Por outro lado, uma vez que as antenas estão ligadas à Terra sólida, os deslocamentos relativos entre as antenas permitem o estudo dos mais diversos fenómenos geofísicos, como o movimento das placas tectónicas, a deformação regional ou a resposta elástica da Terra sólida. A VLBI constitui uma técnica essencial no estabelecimento de referenciais terrestres (posições das anten
as) e celestes (posições dos quasares).  
FIGURA 2. A estação VLBI RAEGE de Santa Maria, Açores. (cedida por José Afonso, CAAUL)


A principal desvantagem da VLBI está relacionada com os custos de operação e manutenção, que tem conduzido à desativação de antenas em países como o Canadá e os EUA. Por outro lado, há países em que se investe nesta tecnologia, como é o caso de Portugal e Espanha, com o desenvolvimento do projeto RAEGE (Rede Atlântica de Estações Geodinâmicas e Espaciais). Com estações localizadas em 3 placas tectónicas distintas (na FIGURA 2, a estação VLBI de Santa Maria, Açores), as observações daquelas estações permitirão, por exemplo, ter um melhor conhecimento da geodinâmica nesta região.

Artigo "O que é um perfil de solo?"

O que é um perfil de solo?

REVISTA DE CIÊNCIA ELEMENTAR, V7/02
Madalena Fonseca CEF/ ISA/ Universidade de Lisboa

A superfície da Terra é formada por diferentes tipos de rochas que estão sujeitas à meteorização (desagregação física e alteração química), que é a principal responsável pela formação de um manto de material não consolidado, o rególito. Pela ação de variados processos físicos, químicos e biológicos que vão acentuar a meteorização, formar novos minerais e adicionar materiais orgânicos à parte mais superficial do rególito, forma-se o solo – um corpo de características únicas que é parte integrante da paisagem e a base dos ecossistemas terrestres e suporte de toda a vida. O solo é constituído, em diversas proporções, por partículas minerais de dimensões muito variadas e também por matéria orgânica resultante da transformação dos resíduos da vegetação que se instala desde o começo da meteorização da rocha. Estas frações minerais e orgânicas apresentam constituição e propriedades muito variadas e raramente ocorrem isoladas, antes interatuando entre si de modo a formar conjuntos de partículas designadas por agregados. Os espaços vazios existentes entre as partículas elementares ou agregadas constituem os chamados poros do solo, que são preenchidos por água e ar em proporções variáveis e são tão importantes para o funcionamento do solo quanto os respetivos constituintes sólidos. As características do solo resultam da atuação dos chamados fatores de formação do solo (clima, rocha mãe, vegetação e outros organismos, incluindo os seres humanos, relevo e tempo), cuja influência relativa nos processos de formação do solo varia de local para local e determina a enormíssima variedade de solos existentes. De um ponto de vista morfológico, os processos de formação do solo traduzem-se geralmente na diferenciação em profundidade de diversas camadas com características distintas, às quais se dá o nome de horizontes que, no seu conjunto, constituem o perfil do solo. Estes horizontes, que podem ser observados num corte vertical efetuado num solo (FIGURA 1), são camadas sensivelmente paralelas à superfície do terreno, separadas umas das outras por limites mais ou menos evidentes, que se distinguem umas das outras através de características como a cor, a textura, a estrutura (agregação), a consistência e a densidade das raízes que nelas ocorre.
FIGURA 1. Perfil de solo na Tapada da Ajuda.


 Sob os horizontes encontra-se geralmente, a partir de maior ou menor profundidade, material ainda não meteorizado que é a rocha mãe do solo, ou seja, a rocha a partir da qual se diferenciaram os horizontes sobrejacentes. Para uma caracterização completa dos diferentes horizontes e para a sua identificação e designação, são necessários dados laboratoriais. É com base na identificação e caracterização dos horizontes presentes em cada perfil que o solo é classificado de acordo com critérios definidos nos diversos sistemas taxonómicos usados para o efeito. A nomenclatura dos horizontes (e sub-horizontes) não é uniforme e tem variado ao longo do tempo. No entanto, a mais normalmente utilizada é chamada nomenclatura ABC. Neste sistema A é o horizonte mineral mais superficial, em geral enriquecido em matéria orgânica, B um horizonte sub-superficial resultante da alteração in-situ do material originário, da acumulação de materiais translocados de outros horizontes, ou da acumulação residual de constituintes não ou pouco móveis, e C o rególito (material rochoso alterado). Entre os horizontes e camadas principais distinguem-se ainda o horizonte E, um horizonte fortemente empobrecido em argila ou em compostos orgânicos, que foram translocados para um horizonte B, e as camadas R, que designam a rocha consolidada subjacente. A observação direta no terreno de um perfil de solo, a análise das suas características e da forma como as mesmas afetam o uso desse mesmo solo, é o caminho mais adequado para ensinar estudantes ou outras pessoas interessadas no domínio da Ciência do Solo, ou Pedologia. No entanto, para que tais observações se possam fazer no terreno, é necessária uma conjugação de fatores tais como a possibilidade de deslocação ao local de observação, ou as condições meteorológicas vigentes. Assim, na impossibilidade de o fazer, podemos, como alternativa, recorrer a um material didático, muito importante no ensino da Pedologia, designado por monólito de solo. Trata-se de um perfil de solo, idealmente típico e representativo de solos que ocorrem em determinada região, em tamanho natural, preparado de modo a não se fragmentar facilmente e a mostrar a morfologia natural do solo. Uma coleção de monólitos (pedoteca) é uma coleção de perfis dos solos mais representativos de uma região ou de um país (FIGURA 2).
FIGURA 2. Pedoteca – coleção de monólitos do Instituto Superior de Agronomia.

Para recolha de um perfil de solo utiliza-se um talude ou abre-se uma cova no terreno, com as dimensões pretendidas de forma a obter uma secção vertical que contenha todos os horizontes do solo desde a superfície até à rocha mãe. O perfil é retirado com ajuda de uma caixa de madeira ou metal, na qual o perfil é transportado para o laboratório. A preparação de um monólito de solo envolve numerosas operações, que incluem a sua colheita no terreno, o afeiçoamento e impregnação com resinas da superfície a exibir. Estas operações são geralmente morosas e dispendiosas, mas resultam muito compensadoras pelo valor acrescido que fornecem no ensino da pedologia uma vez que um monólito permite o contacto visual direto com exemplares de solos colhidos na natureza. 


sábado, 6 de julho de 2019

Sismo de magnitude 7,1 abala Sul da Califórnia

Sismo de magnitude 7,1 abala Sul da Califórnia


Este é o segundo sismo sentido ao longo de dois dias e poderá ser o mais forte em 20 anos.



Um sismo de magnitude 7,1 na escala de Richter atingiu este sábado o Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, um dia depois de outro forte terramoto ter abalado a região. De acordo com as autoridades, há registo de “múltiplos feridos e incêndios”, assim como danos em estradas e edifícios, mas sem gravidade.
O terramoto, que ocorreu às 20h19 de sexta-feira (4h19 deste sábado, em Lisboa), seguiu-se a outro sismo de magnitude 6,4, na quinta-feira, na mesma região.
Tom Eaton, um especialista em sismos, disse ao New York Times que o abalo deste sábado parece ter ocorrido a noroeste do epicentro do tremor sentido na quinta-feira. O sismologista referiu também que o sismo registado durante a madrugada, em Portugal, terá libertado oito vezes mais energia do que o abalo de quinta-feira.
A agência dos Estados Unidos para a Geologia detalhou que o epicentro do último sismo localizou-se no deserto do Mojave, a 18 quilómetros de Ridgecrest — onde se registou a origem do sismo de quinta-feira. Desde então que tem havido várias réplicas na região.
O especialista explicou também que não parece haver relação entre os dois sismos e a falha de Santo André, a maior e a potencialmente mais destrutiva, que cruza o Golfo da Califórnia até São Francisco. 
Os especialistas em sismologia alertam para a possibilidade de réplicas e mais sismos, escreve o New York Times
A agência norte-americana Associated Press (AP) disse que o tremor abalou o centro da cidade durante 30 segundos e foi sentido em Las Vegas, a quase 400 quilómetros, e no México.
De acordo com a Southern California Edison, a principal companhia de eletricidade da região, existem cerca de 2242 residentes sem eletricidade em Ridgecrest e nas áreas envolventes.
Em Los Angeles, fontes oficiais dos bombeiros dão conta de várias falhas elétricas e de postes de energia caídos em alguns bairros, mas reportam que não foram identificados danos relevantes em infraestruturas.
No condado de San Bernardino, contudo, as autoridades dizem que o sismo deste sábado causou mais danos que o de quinta-feira. A cidade a Este de Los Angeles registou várias ocorrências de colapsos de paredes e de fundações 
Este foi o maior sismo registado no Sul da Califórnia em mais de duas décadas.


Resposta à da Adivinha Geológica 4