REVISTA DE CIÊNCIA ELEMENTAR, V7/02
Madalena Fonseca CEF/ ISA/ Universidade de Lisboa
A superfície da Terra é formada por diferentes tipos de rochas que estão sujeitas à
meteorização (desagregação física e alteração química), que é a principal responsável
pela formação de um manto de material não consolidado, o rególito. Pela ação de variados processos físicos, químicos e biológicos que vão acentuar a meteorização, formar
novos minerais e adicionar materiais orgânicos à parte mais superficial do rególito, forma-se o solo – um corpo de características únicas que é parte integrante da paisagem
e a base dos ecossistemas terrestres e suporte de toda a vida.
O solo é constituído, em diversas proporções, por partículas minerais de dimensões muito
variadas e também por matéria orgânica resultante da transformação dos resíduos da
vegetação que se instala desde o começo da meteorização da rocha. Estas frações minerais e orgânicas apresentam constituição e propriedades muito variadas e raramente
ocorrem isoladas, antes interatuando entre si de modo a formar conjuntos de partículas
designadas por agregados. Os espaços vazios existentes entre as partículas elementares
ou agregadas constituem os chamados poros do solo, que são preenchidos por água e ar
em proporções variáveis e são tão importantes para o funcionamento do solo quanto os
respetivos constituintes sólidos.
As características do solo resultam da atuação dos chamados fatores de formação do
solo (clima, rocha mãe, vegetação e outros organismos, incluindo os seres humanos, relevo e tempo), cuja influência relativa nos processos de formação do solo varia de local para
local e determina a enormíssima variedade de solos existentes.
De um ponto de vista morfológico, os processos de formação do solo traduzem-se geralmente na diferenciação em profundidade de diversas camadas com características distintas, às quais se dá o nome de horizontes que, no seu conjunto, constituem o perfil do
solo. Estes horizontes, que podem ser observados num corte vertical efetuado num solo
(FIGURA 1), são camadas sensivelmente paralelas à superfície do terreno, separadas umas das outras por limites mais ou menos evidentes, que se distinguem umas das outras através de características como a cor, a textura, a estrutura (agregação), a consistência e a
densidade das raízes que nelas ocorre.
FIGURA 1. Perfil de solo na Tapada da Ajuda.
Sob os horizontes encontra-se geralmente, a partir de maior ou menor profundidade,
material ainda não meteorizado que é a rocha mãe do solo, ou seja, a rocha a partir da qual
se diferenciaram os horizontes sobrejacentes.
Para uma caracterização completa dos diferentes horizontes e para a sua identificação
e designação, são necessários dados laboratoriais. É com base na identificação e caracterização dos horizontes presentes em cada perfil que o solo é classificado de acordo com
critérios definidos nos diversos sistemas taxonómicos usados para o efeito.
A nomenclatura dos horizontes (e sub-horizontes) não é uniforme e tem variado ao longo
do tempo. No entanto, a mais normalmente utilizada é chamada nomenclatura ABC. Neste
sistema A é o horizonte mineral mais superficial, em geral enriquecido em matéria orgânica, B um horizonte sub-superficial resultante da alteração in-situ do material originário,
da acumulação de materiais translocados de outros horizontes, ou da acumulação residual
de constituintes não ou pouco móveis, e C o rególito (material rochoso alterado). Entre os
horizontes e camadas principais distinguem-se ainda o horizonte E, um horizonte fortemente empobrecido em argila ou em compostos orgânicos, que foram translocados para
um horizonte B, e as camadas R, que designam a rocha consolidada subjacente.
A observação direta no terreno de um perfil de solo, a análise das suas características e da
forma como as mesmas afetam o uso desse mesmo solo, é o caminho mais adequado para ensinar estudantes ou outras pessoas interessadas no domínio da Ciência do Solo, ou Pedologia.
No entanto, para que tais observações se possam fazer no terreno, é necessária uma
conjugação de fatores tais como a possibilidade de deslocação ao local de observação,
ou as condições meteorológicas vigentes. Assim, na impossibilidade de o fazer, podemos,
como alternativa, recorrer a um material didático, muito importante no ensino da Pedologia, designado por monólito de solo. Trata-se de um perfil de solo, idealmente típico e representativo de solos que ocorrem em determinada região, em tamanho natural, preparado de modo a não se fragmentar facilmente e a mostrar a morfologia natural do solo. Uma
coleção de monólitos (pedoteca) é uma coleção de perfis dos solos mais representativos
de uma região ou de um país (FIGURA 2).
FIGURA 2. Pedoteca – coleção de monólitos do Instituto Superior de Agronomia.
Para recolha de um perfil de solo utiliza-se um talude ou abre-se uma cova no terreno,
com as dimensões pretendidas de forma a obter uma secção vertical que contenha todos
os horizontes do solo desde a superfície até à rocha mãe. O perfil é retirado com ajuda de
uma caixa de madeira ou metal, na qual o perfil é transportado para o laboratório. A preparação de um monólito de solo envolve numerosas operações, que incluem a sua colheita no
terreno, o afeiçoamento e impregnação com resinas da superfície a exibir. Estas operações
são geralmente morosas e dispendiosas, mas resultam muito compensadoras pelo valor
acrescido que fornecem no ensino da pedologia uma vez que um monólito permite o contacto visual direto com exemplares de solos colhidos na natureza.
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