Vulcão das Ilhas Canárias entra em erupção pela primeira vez em 50 anos
Este despertar é o mais recente de uma série de erupções em forma de fissura que datam de há séculos na ilha espanhola de La Palma. Os especialistas dizem que a erupção pode durar semanas.
Lava flui após a erupção do vulcão Cumbre Vieja em La Palma, nas Ilhas Canárias. Este evento marca a primeira vez que o Cumbre Vieja entra em erupção desde 1971.
O vulcão Cumbre Vieja na ilha espanhola de La Palma
costuma dar sinais da sua presença, mas não cospe lava desde 1971. Às 15h12,
hora local, do dia 19 de setembro, o magma ascendente abriu várias fissuras nos
flancos ocidentais, dando origem a uma erupção extravagante.
Visto ao longe,
parece espetacular. Fontes vertiginosas de lava com mais de 1.000 graus Celsius projetam-se em direção
ao céu, atingindo alturas de até 1.500 metros – quase o dobro da altura do Burj
Khalifa, o arranha-céus mais alto do mundo. Por baixo, rios entrelaçados de
rocha derretida jorram pelas fissuras como se fossem sangue a sair de uma
ferida aberta.
A ilha de La Palma faz parte das Ilhas Canárias espanholas e é uma das zonas com mais atividade vulcânica do arquipélago. Esta ilha é o lar de mais de 85.000 pessoas.
Localizada a quase 500
quilómetros da ilha da Madeira no Oceano Atlântico, La Palma só existe porque
um ponto de foco vulcânico há muito que elevou terra sobre as ondas nesta zona,
formando o arquipélago conhecido por Ilhas Canárias. Este maçarico
superaquecido de longa duração no interior do manto subjacente criou oito ilhas
principais que têm ecossistemas deliciosamente variados, desde florestas
subtropicais a desertos. Em La Palma, as montanhas altas oferecem as condições
ideais para a observação de estrelas sem nuvens, razão pela qual a ilha abriga
um importante observatório europeu.
Mas, tal como esta nova erupção demonstra, “o preço e o
privilégio de viver numa pequena ilha maravilhosa é, neste caso, a sua história
geológica”, diz Helen Robinson, geocientista da Universidade de Glasgow, que
trabalhou na equipa de monitorização do Cumbre Vieja em 2015.
O Cumbre Vieja é uma estrutura vulcânica altamente ativa e,
nos últimos 7.000 anos, teve uma infinidade de erupções numa cordilheira com
orientação norte-sul – um eixo cicatrizado e marcado por fissuras, crateras e
fendas. Desde o século XV, diversos fluxos de lava danificaram edifícios e
arrastaram-se até ao mar. Geralmente, os fluxos de lava emergem das fissuras,
um evento semelhante ao que acontece com muitos vulcões de todo o planeta,
desde o Kīlauea do Havai até à erupção em curso na península de Reykjanes, na
Islândia.
É difícil determinar durante quanto tempo é que a lava irá
permanecer uma ameaça. As erupções em La Palma podem durar de algumas semanas
até vários meses. “A única maneira de o saber é descobrindo o volume total do
magma passível de erupção que está sob Cumbre Vieja”, diz Pablo J. González,
físico vulcanólogo do Conselho Nacional de Pesquisa Espanhol em Tenerife. “Mas
desconhecemos essa informação.”
As alterações na estrutura do vulcão e o reverberar sísmico
dos seus terramotos podem revelar a resposta para esta pergunta tão importante.
Porém, apesar de estar sob um forte escrutínio científico, é pouco provável que
o Cumbre Vieja revele os seus segredos assim tão facilmente.
A erupção mais recente foi precedida por vários sismos. A monitorização cuidadosa permitiu às autoridades iniciar algumas evacuações antes de a lava começar a fluir.
Ameaça crescente
La Palma, a ilha mais a noroeste das Canárias, é uma
quimera vulcânica: uma mistura de várias estruturas vulcânicas, grandes e
pequenas. Na região sul podemos encontrar Cumbre Vieja – ou “Cume Velho” – que,
apesar do nome, é um dos irmãos mais novos, datando de há 125.000 anos. A
última erupção deste vulcão surgiu de um pequeno cone chamado Teneguia em 1971.
Mas isso não significa que Cumbre Vieja tenha ficado adormecido desde então.
De acordo com Itahiza Domínguez Cerdeña, sismóloga do
Instituto National Geographic, em Tenerife, desde outubro de 2017 registaram-se
nove enxames de terramotos – centenas de estrondos a acontecer na mesma área em
sucessão – a cerca de 30 quilómetros abaixo do vulcão.
Há uma semana, estes sismos estavam a acontecer a apenas 11
quilómetros de profundidade e, nos últimos dias, os sismos surgiam logo abaixo
da superfície. Desde o dia 10 até ao 19 de setembro foram registados 25.000
sismos, a maioria impercetíveis para as pessoas. Esta cacofonia ascendente era
o som da crosta a ser empurrada para o lado e deformada. A causa? “A pressão do
magma a intrometer-se na crosta”, diz Itahiza.
No dia 19, o solo já tinha inchado cerca de 15 centímetros,
sugerindo que um volume moderado de magma tinha-se infiltrado recentemente na
crosta rasa.
A maioria das intrusões de magma não dá origem a erupções;
o magma não consegue perfurar a rocha sólida que está por cima, arrefecendo e
acabando eventualmente por parar de subir. Mas há sempre a possibilidade de um
volume maior de rocha derretida se acumular sob uma intrusão de magma, e isso
pode potencialmente alimentar uma erupção prolífica e prolongada.
Os vulcanólogos ficaram alarmados com as deformações na
montanha e o seu clamor sísmico e, no dia 13 de setembro, as autoridades
aumentaram o nível de alerta, avisando a secção sul da ilha e os seus 35.000
habitantes sobre a possibilidade de uma erupção.
No dia 18 de setembro, os cientistas começaram a colocar
sismómetros adicionais na região para identificar melhor os tipos de sismos e
rastrear a sua migração com mais precisão, enquanto outros sobrevoavam a zona
de helicóptero para perceber se o solo estava a aquecer. Pouco antes do
meio-dia de 19 de setembro, um forte terramoto de magnitude 4.2 agitou o
vulcão.
Por precaução, soldados espanhóis ajudaram a evacuar 40
pessoas e os seus animais de várias aldeias em torno do vulcão.
Mais tarde nesse dia, a lava irrompeu pelas colinas de
floresta no flanco oeste do vulcão. A lava incendiou árvores e terrenos
agrícolas, atravessou uma autoestrada e destruiu oito casas isoladas. Nessa
noite, o governo espanhol anunciou que 5.000 pessoas tinham sido evacuadas.
Embora a lava ainda não tenha
penetrado nas partes mais construídas do município de El Paso, “está a
arrastar-se em direção a uma área densamente povoada”, diz Helen Robinson. Há a
esperança de que o fluxo evite essa área no seu trajeto até ao mar, contudo,
mesmo que isso não aconteça, a região foi evacuada, reduzindo significativamente
o perigo de morte.
Milhares de pessoas foram evacuadas e pelo menos 20 casas foram destruídas pela erupção que no dia 20 de setembro ainda estava em curso.
Cinzas, astronomia e tsunamis
Felizmente, independentemente da duração da erupção, a lava
não deve danificar a infinidade de telescópios astronómicos do Observatório
Roque de los Muchachos da ilha. Juan Carlos Pérez Arencibia, administrador do
observatório, afirma que as instalações ficam a 18 quilómetros a norte do local
da erupção. Para além disso, o observatório está localizado 2.400 metros acima
do nível do mar, enquanto a lava está a emergir nos 600 metros.
“As cinzas podem significar que os telescópios irão
permanecer encerrados durante vários dias sem observação, mas o observatório em
si não deve sofrer danos”, diz David Jones, astrónomo do observatório.
Ao contrário dos receios que circulavam pelas redes
sociais, que foram suscitados por um artigo altamente especulativo de 2001, não
há praticamente probabilidades de a erupção do Cumbre Vieja poder criar um megatsunami
que atinja o litoral leste da América, diz Dave Petley, especialista em
deslizamentos de terras da Universidade de Sheffield, em Inglaterra.
O colapso de flancos de vulcões é uma preocupação genuína,
e é verdade que, há muitos milhares de anos, já aconteceram vários colapsos de
flancos nas costas de La Palma. Mas um estudo de 2015 descobriu que, em
condições de modelagem realistas, o colapso mais grave não causaria mais do que
um tsunami de quase dois metros ao longo da costa do Atlântico ocidental.
Embora essa eventualidade seja decididamente indesejável, o
instituto INVOLCAN salienta que seria necessário um terramoto incrivelmente
poderoso e uma erupção vulcânica incrivelmente explosiva em simultâneo para
haver qualquer tipo de colapso de flanco. O vulcão Cumbre Vieja é
estruturalmente sólido neste momento, e não há indicação de que tal confluência
seja sequer remotamente possível.
Mas não convém ter ilusões: os fluxos de lava são o
verdadeiro perigo. Felizmente, os habitantes de La Palma estão a ser protegidos
por uma vanguarda de vulcanólogos e sismólogos. Os esforços de longo prazo
feitos pelos geocientistas na ilha garantiram que era possível perceber se algo
perverso se estava a formar muito antes de os fluxos serpenteantes de lava
rastejarem pelas encostas do Cumbre Vieja.
“Se eles não fizessem uma monitorização tão intensa”, diz
Helen Robinson, “não compreenderiam tão bem os seus vulcões como compreendem.”
Erupção do vulcão Cumbre Vieja, nas
Ilhas Canárias, continua a provocar estragos e pode ser vista do espaço
ILHAS CANÁRIAS 25/09/2021 ÀS 09:10
Desde a erupção do Vulcão Cumbre Vieja, na ilha de La
Palma, em Espanha, no último domingo (19), as consequências do fenómeno natural
já são grandes e, segundo informações do UOL, não têm data para acabar. Neste
sábado (25), Espanha resolveu fechar o aeroporto por conta do acúmulo de cinzas
oriundas do vulcão. O aeroporto está "inoperante devido ao acúmulo de
cinzas", informou a AENA (Aeroportos Espanhóis e Navegação Aérea), que
também administra o Aeroporto dos Guararapes, no Recife, e vários outros no
Brasil.
Os primeiros voos para La Palma foram cancelados já
na sexta-feira (24). "A evolução da nuvem de cinzas nos últimos dias
forçou a companhia aérea a mudar sua programação, a partir de hoje, sexta-feira,
24 de setembro, cancelando voos para a ilha à noite", anunciou a Binter num
comunicado. A companhia aérea não especificou quantos voos serão afetados. Já a
Iberia anunciou que cancelou um voo na tarde desta sexta.
Mais três cidades evacuadas
Nesta sexta-feira (24), autoridades da ilha de La Palma, em
Espanha, ordenaram a evacuação das cidades de Tajuya, Tacande de Abajo e da
parte de Tacande de Arriba devido à erupção do vulcão nas Canárias. Segundo
informações do G1, na ocasião, os bombeiros tiveram de recuar e interromperam o
trabalho de limpeza na cidade de Todoque na tarde desta sexta, após uma nova
fenda que se abriu no flanco do vulcão, e companhias aéreas cancelaram voos,
devido à maior nuvem de gás e cinzas desde que o vulcão entrou em erupção.
Domingo, 19 de setembro
O complexo vulcânico de Cumbre Vieja, na ilha de La Palma,
Ilhas Canárias, entrou em erupção no dia 19. A atividade do vulcão gerou
preocupação nos brasileiros, já que um estudo apontou que, em caso erupção
explosiva, ele poderia gerar um tsunami na Região Nordeste do País. O alerta de
risco vulcânico foi acionado nesse sábado pelas autoridades espanholas.
Segunda, 20 de setembro
Na segunda, já havia registos de transtornos. "São
muitas as casas destruídas. Não há um número estabelecido ainda", informou
um porta-voz do governo regional das Canárias à AFP. Já em entrevista à
televisão pública, o prefeito de uma das localidades afetadas afirmou que, pelo
menos, 20 casas foram destruídas.
Terça, 21 de setembro
Na terça, a erupção vulcânica registou novos abalos
sísmicos e o surgimento de outra boca eruptiva na cidade de Tacande, em El
Paso, o que obrigou a novas evacuações da população. Segundo as autoridades,
mais de seis mil moradores já foram retirados das áreas expostas à erupção do
vulcão Cumbre Vieja, nas Ilhas Canárias.
Quarta, 22 de setembro
Na quarta, as colunas de lava engoliram tudo o que
encontram pela frente durante a descida para a costa da ilha, como residências,
árvores e estradas. Estimou-se que 185 construções, das quais 63 seriam casas,
já tenham sido destruídas pelo fenómeno.
Quinta, 23 de setembro
A lava devastou tudo em seu caminho para a costa da ilha no
arquipélago espanhol das Ilhas Canárias, embora a um ritmo mais lento do que o
esperado, em torno de 120 metros por hora. Desde a erupção do vulcão a lava já
varreu 180 casas, de acordo com o sistema europeu de monitoramento de
emergência baseado no espaço Copérnico.
Sexta, 24 de setembro
Em Todoque, localidade pertencente ao município de Los
Llanos de Aridane, uma igreja não foi afetada, pelo menos até o momento.
Atendendo ao apelo dos moradores que tiveram que deixar suas casas, os
bombeiros conseguiram redirecionar parte da lava. A ação durou horas e envolveu
diversas maquinarias. A lava foi desviada para um barranco.
Vulcão em erupção
O vulcão entrou em erupção no domingo (19) nas Canárias, um
arquipélago espanhol formado por oito ilhas no Oceano Atlântico, e forçou a
evacuação de milhares de pessoas. As lavas estão a descer lentamente do Cumbre
Vieja e continuam a engolir tudo o que encontram em seu caminho. Elas já
destruíram 320 construções e 154 hectares de terra até o momento, no seu
caminho em direção ao mar. A lava pode gerar gases tóxicos se chegar ao
Atlântico, e os especialistas dizem que a erupção vulcânica e suas
consequências podem durar até 84 dias em La Palma. A ilha tem cerca de 85 mil
habitantes.
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