artigo saído no Público, dia 15 de agosto, 2020
Esta importante jazida, classificada como Monumento Natural, em
1997, é hoje um misto de lixeira e matagal com ervas, arbustos e
árvores, tudo entretanto nascido e enraizado na própria laje que
contém as pegadas.
A primeira batalha que travei com a Administração pela salvaguarda
da jazida com pegadas de dinossáurio de Pego Longo (Sintra) na
vizinhança imediata de Carenque (Amadora) durou três anos, entre
1990 e 1993, com larga participação da comunicação social. Saldou-se por uma feliz vitória, concretizada com a abertura dos dois túneis
da CREL, sob a grande laje que contém as pegadas, o que custou
cerca de oito milhões de euros à fazenda pública. À cautela, o Museu
Nacional de História Natural, da Universidade de Lisboa, era eu,
então, o diretor, procedeu à moldagem, em latex, da totalidade do
trilho (132 m). De tudo isto dei pormenorizado relato no livro
“Dinossáurios e a Batalha de Carenque”, Editorial Notícias, 1994.
É verdade que esta penosa batalha foi ganha, salvando-se as ditas
pegadas, mas, de então para cá, deixadas ao abandono, assistimos,
impotentes, à sua destruição, não obstante as múltiplas insistências
que intentei ao longo destes 26 anos.
Em 2001, a Câmara Municipal de Sintra, ao tempo da presidência da
Dr.ª Edite Estrela, aprovou o projeto do “Museu e Centro de
Interpretação de Pego Longo” e, quando tudo se encaminhava no
sentido da musealização do sítio, mudou a vereação do PS para o
PSD e o projeto perdeu-se no fundo de uma qualquer gaveta.
Esta importante jazida, classificada como Monumento Natural, em
1997 (Decreto n.º 19/97 de 5 de Maio), é hoje um misto de lixeira e
matagal com ervas, arbustos e árvores, tudo entretanto nascido e
enraizado na própria laje que contém as pegadas. Uma vergonha para
a Câmara Municipal de Sintra e uma vergonha ainda maior para o
Instituto de Conservação da Natureza (e agora das Florestas, um
enorme disparate como se as florestas não fizessem parte da
natureza), a quem, por lei, compete fiscalizar e zelar por este valioso
património.
Estamos a viver um período em que temos outras urgências bem mais
gritantes, sendo de bom senso que, pelo menos, se tente travar a
degradação em curso, protegendo eficazmente a jazida, na espera de
melhores dias.
Se mesmo isto não for feito. que se possa, ao menos, assacar
responsabilidades às duas supraditas instituições.
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