Observador
Eduardo Caetano, 04 jan 2020, 15:52
Vénus pode ser o único planeta principal, além da Terra, a ter vulcanismo ativo na atualidade. Getty Images
Cientistas cruzaram dados de laboratório com medições de uma sonda da ESA (Agência Espacial Europeia) e descobriram que Vénus pode ter vulcões ativos como a Terra. Lava pode ter poucos anos, sugere estudo.
Uma
equipa de astrofísicos diz ter encontrado provas científicas de que há vulcões
ativos na superfície do planeta Vénus. O estudo, publicado esta sexta-feira, 04
de janeiro, na revista científica Science Advances, é da Universities
Space Research Association, uma associação privada de universidade com
programas de investigação na área do espaço.
A confirmarem-se estes dados, Vénus é o único planeta principal
além da Terra a ter vulcanismo ativo na atualidade. Entre as luas do Sistema
Solar, só mesmo Io, um satélite natural que orbita Júpiter, tem vulcões que
expelem lava vinda de uma camada magmática debaixo da superfície do corpo
celeste. Marte também já teve vulcanismo ativo — é aqui que fica o maior vulcão
do Sistema Solar, o Monte Olimpo, com 27 quilómetros de altura — mas cessou há
milhões de anos.
Segundo
um artigo de divulgação do estudo publicado na página Phys.org, os cientistas
recriaram a atmosfera de Vénus em laboratório para descobrir como é que os
minerais reagem às características do planeta. Foi assim que descobriram que a
olivina, um mineral que existe em abundância na rocha magmática basalto, se
exposta a temperaturas de 900ºC durante até um mês, fica revestido em poucas
semanas por magnetite e hematite, minerais ricos em óxido de ferro e com uma
cor vermelha muito escura que são difíceis de detetar.
Depois,
os investigadores compararam esses resultados com os dados obtidos ao longo dos
anos pela sonda Venus Express, desenvolvida pela Agência Espacial
Europeia para a sua primeira missão espacial ao planeta. Essa sonda detetou
sinais de olivina na superfície de Vénus, indicando que ela se devia ter
formado há muito pouco tempo — ou então já estaria “escondida” pelos minerais
escuros que a sonda não consegue encontrar.
Esta sugestão, aliada ao facto de os investigadores já terem
encontrado altas emissões de luz visível e próxima do infravermelho em vários
locais da superfície venusiana em 2010; e de atmosfera de Vénus ser muito rica
em dióxido de enxofre — um produto das erupções vulcânicas —, levou esta equipa
a sugerir que os “fluxos de lava em Vénus são muito jovens” e que podem ter
“apenas alguns anos de idade”.
Segundo Justin Filiberto, o cientista que liderou esta
investigação, “se Vénus for realmente ativo hoje, seria um ótimo lugar para
visitar e entender melhor o interior dos planetas”. “Poderíamos estudar como os
planetas arrefecem e porque é que a Terra e Vénus têm vulcanismo ativo, mas
Marte não”, justificou.
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